quinta-feira, 15 de outubro de 2015

As coisas nem mudaram tanto assim

Keeping Kids Entertained in the Car: 12 fun things to do with just pencil and paper:

Eu me prometi que ia voltar a usar esse espaço para escrever, mas ainda não voltei. Essa é a verdade. Mas continuo pensando com carinho nessa possibilidade.

Aí que, procurando inspiração para as outras atividades que me ocupam a vida (A.K.A liten landa e Atri), eu encontrei um arquivo de word interminado, que deveria ter sido postado aqui, mas ficou os últimos 38 meses perdido em alguma parte desse meu bagunçado HD.

Vou postar hoje, mesmo sem a devida conclusão, porque no fim das contas, acho que não tinha terminado o texto porque não tinha concluído o pensamento, mas a verdade é que ele segue em aberto. E talvez seja assim, sempre.

"Às vezes quando eu analiso as coisas sobre as quais eu gosto de pensar, porque eu considero importantes, a primeira impressão que eu tenho é que são assuntos tão conflitantes que eu não vou conseguir chegar à conclusão alguma, e invariavelmente isso me causa uma ansiedade. Há algum tempo, no entanto, eu tenho conseguido achar a lógica que faz a ligação entre minha fascinação por moda e minha aversão ao consumismo exagerado.

Com as recentes críticas ao mercado de blogs de moda, eu pude perceber a preocupação de um número até grande de pessoas, mesmo longe de ser a maioria, sobre o crescente incentivo ao consumo baseado nas inseguranças femininas e ainda mais na ética das pessoas, físicas e jurídicas, que baseiam nisso seus lucros. Não gosto do termo blogueira, e de fato, não tornei o ato de escrever numa plataforma que se chama Blogger minha fonte de renda, mas foi nesse exercício diário de só falar sobre o que eu acredito que eu entendi que não há contradição entre analisar (e amar) moda e desejar uma sociedade menos consumista.

Quando eu me proponho esses pequenos desafios, sobre os quais eu escrevo aqui no MRB, o que eu tento é dar uma motivação nova a um ato que pode cair tão facilmente na inércia, como é o de se vestir todos os dias. É através do compromisso de pensar sobre isso com seriedade que eu descubro mais sobre meus gostos, meus erros passados, e consequentemente minhas compras ficam mais conscientes e bem menos frequentes.

Sob a ação daquele fenômeno que faz o recente comprador de um carro azul passar a enxergar mais carros azuis do que nunca, eu vou me deparando com exemplos, relatos, artigos e até eventos que promovem esse tipo de pensamento e reflexão. Durante a Casa TPM, que aconteceu no último fim de semana, o tema de um dos debates foi: ‘Moda liberta ou escraviza?’ e uma das aspas mais legais, para citar uma que tenha diretamente a ver com moda, foi a do Ronaldo Fraga. Não acho que seja coincidência que tenha vindo de um dos poucos estilistas brasileiros que faz um trabalho autoral, coerente, reconhecível independente das tendências, através dos anos. Ele disse: “Eu não fico preso a tendências. Sempre existiu essa cartilha da moda. Isso facilita a vida de muita gente, dos lojistas, dos jornalistas e dos designers. Quem consegue se livrar da prisão da tendência consegue uma coisa que não vende na loja. Consegue virar seu próprio personagem. Quem rompe com a tendência marca um tempo”.

É nessa fala que fica clara a contradição que há entre o consumo desenfreado e o estilo pessoal. Que este último se alimente do fenômeno moda para se aperfeiçoar, se alimentar de mais referências, enriquecendo, é o ideal (e é no que eu acredito). O que acontece de verdade é que, em meio a tantas opções que nos são oferecidas, fica difícil se ater às poucas coisas que fariam de fato nosso estilo se desenvolver, melhorar, tomar um caminho que fale bem sobre a nossa personalidade. Sem muita auto-confiança, o caminho mais curto que a mulher de hoje encontra da vida real até a moda conceitual está nos blogs de moda. Ao invés de tirar proveito da democracia e da multiplicidade de estilos possíveis, o que se vê é um exército de seguidoras com uniformes “pré-aprovados” pelas autoras de looks do dia.


Não me espanta que existam leitoras que defendam suas autoras como se fossem da sua própria família e eu nem acho que elas sofram de algum tipo de retardo mental, como alguns gostam de concluir. Também não causa surpresa que o mercado esteja se utilizando dessa “nova mídia” para atrair consumidores. O que assusta, a mim, pelo menos, é a falta de crítica. 
Adriana Takeuchi, 08 de Agosto de 2012."