quinta-feira, 5 de julho de 2012

SÃO PAULO SEM CARRO (?)



Li hoje sobre o lançamento desse livro. Tenho pensado muito sobre isso: São Paulo, carro, utilização de espaço público. Minhas últimas duas viagens tinham sido para a Europa, onde não ter carro faz muito mais sentido, e agora, voltando dos EUA, ficou muita clara a diferença de utilização do espaço público que se tem nas cidades dependendo do quanto de transporte público (de qualidade) cada uma oferece e de quanto seus habitantes estão acostumados e/ou dispostos a utilizá-los.

Mesmo entre Rio de Janeiro e São Paulo dá para notar o contraste. A justificativa mais comum é o tamanho das cidades. Eu ainda tenho dúvida sobre o que causou o quê no fim das contas. Me pergunto ainda se o perfil dos moradores define a maneira como a cidade se dispõe ou se, ao contrário, a cidade molda seus moradores. Acho que um pouco dos dois, até porque não existe resposta certa para uma pergunta dessas.

O Thiago Blumental escreveu sobre o assunto, no post mais sincero e verdadeiro que eu li sobre. Confesso que desde então me questiono sobre vender ou não meu carro, porque me sinto ridícula de não saber pegar ônibus na minha própria cidade. Burguesinha! Tirando as questões ambentais e de qualidade de vida, me interessa o viés psicológico dessa história toda. Quanto o ego tem influenciado no dia-a-dia em São Paulo, até nas relações?

Nós, burguesinhos que reclamamos de passar cada vez mais tempo no trânsito, somos os mesmos que dedicamos nossos melhores anos a ganhar dinheiro para comprar um carro melhor, a cada vinte, trinta meses, tão logo acabem as prestações do último. E a gente acha que tem liberdade, hahaha. Ter o carro que combina com a nossa personalidade, conforme a indústria publicitária nos faz acreditar, vira quase obrigação. Que homem não quer ser visto no carro que remete a adjetivos como "dinâmico", "bem sucedido", "forte", ao sair da "balada"? Eu chego a ter pena.

Pena porque, para começar, que tipo de personalidade tem uma pessoa que compra uma propaganda dessas? Que acredita que o seu carro vai dizer mais sobre si do que a sua própria pessoa (Pensando bem, tem gente que tem se comunicado melhor pelo que tem do que pelo que é)? A mesma das mulheres que seguem as "dicas de amiga" da blogueira da high society. Essas pessoas compram o que impoem a elas achando que vão se tornar irreprimíveis. Eu olho e só consigo ver insegurança, não posso pensar num jeito mais rápido de diagnosticar.

Fora isso, sofre nossa noção de utilização de espaço público, que eu comecei citando. Andar sempre dentro de um carro nos afasta da cidade. Já reparou como a gente não se apropria dela, mesmo sendo obrigado a pagar tantos impostos? A gente não conhece nossos próprios direitos e assim fica também sem ter como exigi-los. O governo e os políticos adoram, pode ter certeza. A gente acaba se afastando também das pessoas, de tal forma que até um contato com o vizinho no elevador passa a ser incômodo. Eu conheço gente que espera o próximo só para não passar pela experiência constrangedora de não saber sobre o que conversar naqueles 60 segundos eternos.

Eu comecei falando de uma coisa e acabei chegando a outras conclusões, porque no fim das contas, tudo interfere em tudo. Me incomoda porque esse ciclo vicioso de um mercado que se aproveita das inseguranças das pessoas gera ainda mais gente insegura e, consequentemente, uma sociedade mais chata de se viver. Outro motivo para eu escrever é que eu acho que tem solução, se cada um pelo menos tentar identificar as razões por que consome, inventar outras atividades que diminuam suas frustrações, que não só comprar, a gente já consegue melhorar um pouquinho a vida. E, por que não dizer?, o trânsito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário