Ontem a Garance Doré postou no blog dela uma reflexão sobre as diferenças entre NY e Paris no que diz respeito ao anel de noivado e à importância que homens e mulheres de cada lugar dão a essa "entidade". Resumindo, ela descreveu como ela percebe a mulher francesa sendo mais "legal" com o namorado quando o assunto é casamento. Que na França bastaria um pedido simples e um relacionamento com amor para consumar o enlace, sem a exigência de um super anel, ao passo que novaiorquinas encaram essas jóias e festas como parte importante de suas vidas. Mesmo as mais rebeldes e supostamente desencanadas. Na equação, fatores como o lugar onde vão morar, o modo como é feito o pedido e o modelo do anel (atenção especial ao tamanho da pedra, é claro) definem a seriedade do pedido e condicionam o aceite.
Ela começa por defender o ponto de vista francês, mas logo condescende e atribui o contraste à diferença de cultura e conclui que, no fim, se trata de romance: American Way of Romance. Sendo que ela percebeu que não só as mulheres dão importância ao assunto e se confessa repensando a própria postura. O post termina com a Garance querendo saber das leitoras como elas se sentem sobre o tal do anel e como é isso no lugar de onde cada uma vem. Me parece que no Brasil a gente mistura um pouco desses dois mundos; a cerimônia ainda é bem valorizada, mas eu não vejo as mulheres exigindo diamantes gigantes. Ou talvez sejam só minhas amigas...
Mas o que me motivou a escrever sobre isso foi a vontade de citar um trecho do livro sobre o qual eu já escrevi aqui. No capítulo do 'Darwin vai às compras' que fala sobre a característica "afabilidade" ele conta sobre o fato histórico que alavancou o mercado dos anéis de noivado para exemplificar como ele é um sinalizador desse traço da personalidade. Leia e pense se isso faz sentido pra você. Para mim, condiz perfeitamente com o jeitinho americano de solucionar problemas da "civilização".
No micronível, muitos produtos prosperam porque são associados a personalidades e atividades afáveis. Desde a década de 1930, anéis de noivado com brilhantes constituem o principal símbolo das intenções românticas honrosas e, também, de afabilidade conjugal. As mulheres do início do século XX se depararam com o seguinte problema: declinavam os processos contra homens por danos financeiros advindos de uma quebra de compromisso matrimonial. Tornou-se extremamente comum elas serem seduzidas por psicopatas que prometiam o casamento e, então, abandonadas depois de eles se aproveitarem de sua virgindade durante o noivado. De Beers preencheu esse hiato de sinalização confiável com o lançamento do anel de brilhante, que recebeu uma propaganda pesada, com o slogan "Um diamante é para sempre". Os marqueteiros de diamantes recomendavam às mulheres pedirem que os homens gastassem dois meses de salário (ou aproximadamente a renda disponível de um ano) num anel, à guisa de sinal de seriedade do seu compromisso. Desde então, os anéis de noivado passaram a dominar a demanda por diamantes maiores de um quilate. Cada vez que os homens encontravam uma fonte mais barata de diamantes, as mulheres exigiam pedras maiores para manter a confiabilidade da sinalização. Hoje, noivos aspirantes debandam das joalherias a varejo para as lojas on-line, como a Blue Nile, que cobra 40% a menos por anéis de qualidade igual. Entretanto, as noivas, que normalmente escolhem pessoalmente o modelo preferido de anel na própria Blue Nile, ainda exigem do homem a regra dos dois meses de salário (o que resulta num preço médio de 6.400 dólares para um anel de noivado). A economia feita ao comprar on-line é convertida num diamante maior, e não resulta num custo inferior, opção que representaria sinal menos confiável de afabilidade.Eu também vou terminar meu post com Beyoncé, porque é uma ilustrãção perfeita e uma coreografia que sempre vale a pena ver de novo.