Uma amiga, certa vez, veio me pedir um conselho. - Não sei
com que roupa sair no sábado à noite. Perguntei, tentando entender - Mas qual é
exatamente a dúvida? A resposta foi - Não sei como me vestir, é balada de
playboy. Na minha cabeça, a primeira
tradução (meu cérebro traduz tudo que ouve, bem irritante) saiu “Não sei como
me fantasiar, é lugar de gente rica”.
Para mim, não faz muito sentido que o nosso estilo pessoal
seja radicalmente mudado de acordo com a classe social da média dos
frequentadores de um evento, o que não é o mesmo que se vestir de acordo com
uma determinada ocasião. Tendo um estilo que respeite quem você é e a mensagem
que você quer passar, você vai saber o que vestir em situações formais ou não,
eventos diurnos e noturnos, e assim por diante.
Meu conselho, naquela ocasião, foi: - Veste o que você veste
sempre, que te faz sentir bem, você mesma. Eu sabia que não tinha nada de
errado com o estilo de sempre dela e eu temia que ela fosse correndo comprar um
vestido super curto, um sapato super alto, a carteira da marca da moda. Eu
tenho a impressão que esse é o uniforme das meninas que frequentam casas
noturnas com um alto valor de ingresso.
Primeiro resultado da busca 'Uniforme para balada' |
Esse episódio me fez pensar em quanto as pessoas estão
preocupadas em convencer as outras de que pertencem a um certo grupo e que,
geralmente, quando essa preocupação existe é porque elas não pertencem e, por
isso, o esforço. Isso fica muito claro para mim ao ver alguns produtos, sem
motivo aparente, serem consumidos como se fossem os únicos de sua classe. Quando
eu digo ‘sem motivo aparente’ eu quero dizer que eles ou não são bonitos o
suficiente para justificar o frisson
e/ou vestem mal seus donos.
Quem ainda não se cansou dos relógios e bolsas Michael Kors,
sapatilhas Terry Burch, calças Diesel, camisas Equipment, Crocs, UGGs, etc.?
Isso só para falar dos “originais”, numa faixa classe média, porque a partir
deles surgem as cópias (vide tênis com salto interno e saias mullet que, agora,
todo mundo está amando odiar), o que torna o fenômeno todo ainda mais maluco.
Mas não incompreensível.
O que todos estes produtos têm em comum? Na minha opinião, o
preço mais alto do que seria razoável aliado à facilidade de serem reconhecidos
e, portanto, de transmitir o sinal desejado, ainda que inconscientemente. Que
sinal? “Eu tenho dinheiro e sou bem informado o suficiente para ter ISTO.” Daí surgem
os absurdos que se vê nas semanas de moda. Depois da logomania, que surgiu na
década de 80 e foi revisitada há alguns anos, agora é a vez de competir não por
qual marca tem o logo que ocupa a maior porcentagem de uma peça, mas qual marca
faz o objeto feio mais vendável.
Eu não vejo nada de errado no fato de a indústria usar essa
estratégia, esse é o papel de quem tem como objetivo vender mais que seu
concorrente. Mas enquanto ela dá certo, é um sinal de que nós não nos importamos
de estar uniformizados e, ainda por cima, feios. É um sinal de que estamos
vestidos não de nós mesmos, mas como “deveríamos” estar para sermos aceitos, de
que estamos dando mais valor ao que se tem do que ao que se é.