quarta-feira, 30 de maio de 2012
NEGÓCIOS DE MODA: +B - DIA 1
Hoje começou o +B, Salão Brasileiro de Negócios de Moda e Conteúdo Criativo, iniciativa da ABEST, que promove palestras sobre negócios e inovação, além do salão propriamente dito, com expositores da indústria, destinado à comercialização de suas coleções. Primeiro, quero dizer que achei tudo bom: o lugar, a organização, a curadoria dos temas e palestrantes, feita pelo Ferreirinha, a facilidade de participar. O evento foi gratuito e qualquer um podia se inscrever.
A manhã teve Valdemar Iódice, Roberto Davidowicz, que são respectivamente o presidente e o vice-presidente da Associação Brasileira de Estilistas, Glória Kalil e Paulo Borges falando das novas datas das semanas de moda brasileiras primeiro. Depois um pouco de neuromarketing numa apresentação bem bacana do Pedro Calabrez e, no final, dois cases de marcas novas que nasceram a partir do desejo pelo lifestyle brasileiro, especialmente carioca - uma com raízes em Londres, criada por um anglo-brasileiro e a outra com raízes aqui mesmo, mas criada por um americano.
Vou ter que discorrer sobre essa história do lifestyle brasileiro depois, porque é um assunto que vale a pena (e vai continuar valendo por um bom tempo) ser discutido. O que me tirou da cama e fez eu esquecer minha gripe por esses minutinhos foi a vontade de escrever sobre a indústria têxtil e de confecção, cada vez mais judiada no Brasil.
O Valdemar Iódice levantou a bola, dizendo que é praticamente impossível contar com matéria-prima brasileira para criar. Eu tuitei essa declaração e recebi uma resposta da Liliane Ferrari, sobre como nós temos, sim, tecelagens como a Santa Constância, que criam e produzem aqui no Brasil. Fui obrigada a concordar com os dois. Talvez nos poucos caractéres que o twitter oferece fosse difícil entender o contexto em que a tal declaração estava inserida, mas vamos lá. A questão tinha a ver com o calendário, as antecedências necessárias para criação, que nós que já estudamos moda ou que estamos no mercado sabemos bem.
Aí começa a se desenrolar a questão que é discutida desde que eu entrei na faculdade e só tem piorado de lá pra cá. A indústria têxtil, assim como todo o empresariado no Brasil, sofre com os altíssimos impostos que encarecem demais o produto e consequentemente lhes tiram a competitividade. Poucas sobrevivem e acabam sendo insuficientes para atender a demanda do mercado, mesmo que só interno. A Santa Constância, uma das nossas poucas e boas, como eu comentei com a Liliane, faz o milagre de continuar na ativa, sabe-se lá de que jeito.
Durante esse bate-papo, que trouxe pouca discussão porque todos estavam de acordo que temporadas em março e outubro fazem mais sentido, ficou claro quanto o Paulo Borges estava puto (pra falar em português bem claro) com o fato de o governo (sempre) incentivar somente a indústria automobilística e a Embraer. Mais um com razão, conclusões óbvias. Minha inquietação não começou hoje e talvez por isso a paciência pra escrever um texto tão longo. Tem a ver com o último escândalo (que não escandaliza mais ninguém, infelizmente) de mão-de-obra escrava na moda, da Gregory, com sustentabilidade fajuta, com consumo desenfreado, inversão de valores, má educação.
Para resumir, o raciocínio é o seguinte: gente cada vez pior educada (de todas as maneiras) acredita que vai ser respeitada pelo que compra/tem, alimenta um mercado que de um lado tenta parecer sustentável só para conquistar novos consumidores e de outro arruma meios nojentos de colocar mercadoria à venda pelo preço que faz todo mundo querer comprar. Complexo, mal explicado? Pode ser. Se quiser entender, pode me convidar pra discutir isso numa mesa de bar, eu adoro falar sobre isso, embora haja pouca gente que esteja disposta a ouvir. Mas considerando que você chegou até aqui...
Vou concluir defendendo a indústria da moda, não porque eu amo o assunto, mas porque se fosse pra explicar porque a gente deveria querer vestir mais roupa brasileira do que dirigir carro nacional, eu tenho dois motivos simples de explicar. O primeiro, óbvio, é que a gente simplesmente não suporta mais carros na rua. Nem vou falar sobre. O segundo é que a indústria de confecção emprega muita mão-de-obra feminina (vou aproveitar para colocar o link de um projeto que eu gosto muito e tem tudo a ver com essa questão, Girl Effect, clica para entender melhor) e é inadmissível a gente fingir que não sabe que existem milhares de famílias ganhando R$300 por mês e vivendo em condições de escravidão pra gente poder vestir a modinha da última estação.
O post ficou grandão, e eu espero que tenha feito ALGUM sentido. Dá pra ver que eu também tô bem puta, né?! Amanhã tem mais +B e eu espero que eu saia mais leve.
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